Matéria divulgada originalmente em Notícias de Impacto e autorizado reprodução pela Entrepreneur Data
Evento da ANDE em São Paulo com aceleradoras e incubadoras (foto divulgação) |
Por
Ana Mathias (ANDE), Rebeca Rocha
(ANDE) e Brent Ruth (Emory University)
Esta é uma das seis reflexões do
Global Accelerator Learning Initiative (GALI) sobre o cotidiano das
aceleradoras no Brasil
Na última década, o setor de
aceleração vem crescendo mundialmente. Há cada vez mais organizações focadas em
alavancar negócios, estruturar ideias e prepará-las para o mercado. Com o
propósito de compreender o impacto que essas organizações podem gerar no setor
empreendedor, a Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE) e
a Emory University criaram em 2015 o Global Accelerator
Learning Initiative (GALI), para analisar globalmente, por meio
de dados científicos, o impacto dos programas de aceleração nos negócios.
No Brasil, a aceleração também ganhou
força nos últimos anos. Segundo estudo realizado pela ANDE em 2016, a maioria das
organizações mapeadas como aceleradoras no Brasil foi fundada a partir de 2010.
Em fevereiro de 2018, a ANDE realizou
um evento com 17 aceleradoras, incubadoras e organizações de apoio em São
Paulo, como Artemisia, BrazilLab, Impact Hub, Quintessa, Startup Farm e Yunus
Social Business. Durante o evento foram apresentados os principais insights do
GALI e discutidos temas como gestão de pipeline, seleção, conexão, fundraising e
desenvolvimento de capacidades. A partir destas discussões surgiram vários
insights sobre o cotidiano, desafios e oportunidades do setor de aceleração.
Os seis principais insights que
emergiram da conversa são compartilhados abaixo pelo GALI:
1.
Parcerias são
fortemente usadas como estratégia pelas aceleradoras para atrair novos negócios
Além de parcerias com universidades,
mídia e investidores para conseguir alcançar novos públicos e atrair novos
negócios para seus programas, outras estratégias que funcionaram para as
aceleradoras e incubadoras foram mídias digitais e de massa, boa rede de
mentores, participação em eventos e associações, tutores dedicados a cada
negócio e indicacões. Por outro lado, as aceleradoras destacaram como
estratégias que não funcionaram tão bem a utilizacão de plataformas de email
marketing para um número pequeno de contatos, a utilizacão de comunicação muito
abrangente sem um recorte específico e esperar por atracão orgânica de negócios
para as inscrições.
Conforme alguns dados coletados pelo
GALI1 de
programas de aceleração no mundo todo, 60% dos programas implementam ou
realizam programas em parceria com pelo menos uma outra organização. Estes
parceiros podem ajudar a atrair negócios e potenciais investidores, ou
simplesmente por meio do aumento da qualidade e quantidade de pipelines dos
programas.
2.
Apesar da grande
disseminação do conceito de aceleração e da cultura empreendedora, atrair
negócios que se encaixem com o perfil da aceleradora e que tenham maior
maturidade ainda é um desafio
Apesar do importante papel das
universidades no estímulo ao empreendedorismo, as incubadoras e aceleradoras
ainda têm dificuldades de encontrar negócios com o perfil certo para seus
programas. Além disso, as aceleradoras e incubadoras que são focadas em
negócios de impacto social2 – destacaram como dificuldade o fato da
definicão de impacto muitas vezes não ser clara e ser de difícil apresentação
para o mercado.
3.
Critérios claros
são fundamentais para a seleção de bons negócios
Dentre as estratégias que as
aceleradoras mencionaram como uma boa prática está a criação de um processo de
selecão claro, baseado em fases, com critérios e regras bem definidas. Além
disso, recomendam realizar entrevistas com o empreendedor e avaliar também a
equipe do negócio durante o processo. Estes dados estão de acordo com as
tendências internacionais, pois 91% dos programas parceiros do GALI realizam
entrevistas como parte de seus processos de seleção. Além disso, uma equipe
promissora e de qualidade é o foco do processo de seleção de 29% dos programas
analisados.
4.
O uso de
plataformas EAD é cada vez mais utilizado para formar empreendedores
Seguindo uma tendência na educação, a
utilização de recursos EAD para auxiliar na formação dos empreendedores foi
tanto apontada como um recurso já utilizado por algumas aceleradoras, quanto um
recurso a ser implementado por outras. A possibilidade de realizar partes dos
programas de aceleração de forma remota também é uma tendência global. 87% dos
parceiros do GALI incluíam alguma parcela de participação remota. No entanto,
programas totalmente remotos não são amplamente utilizados, com apenas 3% dos
programas acontecendo desta forma.
Além da utilização de plataformas
EAD, outros serviços oferecidos mais citados foram: conexão com mentores,
cursos, consultorias, grupos de aprendizagem coletivos, suporte financeiro,
mentorias em temas específicos como jurídico e impacto social, reuniões
semanais para apoiar os empreendedores em seus desafios, acelerar e apoiar
relacões com clientes e fornecedores.
5.
Apesar de ser um
diferencial, as aceleradoras ainda encontram dificuldades em conectar negócios
e investidores
Apenas 12% dos programas parceiros do
GALI globalmente reportaram a conexão entre negócios e investidores como um
benefício de seu programa. Esta dificuldade se repete no Brasil, pois apesar de
alguns programas de aceleração já oferecem essa oportunidade, os participantes
do evento ressaltaram a dificuldade em encontrar o investidor certo para cada
negócio, demonstrar o ROI dos negócios para esses investidores e como mensurar
seu impacto. Outros desafios estão relacionados à esfera legal brasileira como
a falta de leis que incentivem o investimento em novos negócios.
6.
O acompanhamento
dos negócios após a aceleração ainda é um desafio
Por fim, quando os negócios terminam
o programa de aceleração, fica mais difícil manter as relações com o
empreendedor para acompanhar o negócio, seus resultados e impacto. Esse fator
dificulta, por exemplo, a mensuração do impacto do programa de aceleração nos
negócios que por eles passaram. Globalmente, alguns programas de aceleração
encontraram saída para este desafio oferecendo alguns serviços de suporte
pós-aceleração com construção de networking e exposicão na
mídia. Estes serviços podem facilitar a continuidade do relacionamento com os
negócios.
Notas
1 Entre 2016 e 2017, o GALI
coletou informações sobre 115 programas de aceleração parceiros no mundo todo,
trazendo um panorama das características dos programas de aceleração
participantes do projeto. Os dados do GALI mencionados neste texto são fruto
desta coleta.
2 “Negócios de Impacto são empreendimentos que têm a missão explícita de gerar impacto socioambiental ao mesmo tempo em que geram resultado financeiro positivo e de forma sustentável” (Forca Tarefa de Finanças sociais, s/d). Segundo o relatório “Avanço das recomendações e reflexões para o fortalecimento das Finanças Sociais e Negócios de Impacto no Brasil”, de 2016, ao menos 10% das incubadoras e aceleradoras do Brasil declararam que os negócios de impacto formam parte importante de seus portfólios e mensuram de alguma forma seu impacto social. Enquanto isso, no cenário global 51% dos programas parceiros do GALI possuem um foco específico em impacto social.
2 “Negócios de Impacto são empreendimentos que têm a missão explícita de gerar impacto socioambiental ao mesmo tempo em que geram resultado financeiro positivo e de forma sustentável” (Forca Tarefa de Finanças sociais, s/d). Segundo o relatório “Avanço das recomendações e reflexões para o fortalecimento das Finanças Sociais e Negócios de Impacto no Brasil”, de 2016, ao menos 10% das incubadoras e aceleradoras do Brasil declararam que os negócios de impacto formam parte importante de seus portfólios e mensuram de alguma forma seu impacto social. Enquanto isso, no cenário global 51% dos programas parceiros do GALI possuem um foco específico em impacto social.
Referências:
Aspen Network
of Development Entrepreneurs (ANDE). O
Panorama das Aceleradoras e Incubadoras no Brasil, 2016. Disponível em https://www.galidata.org/publications/landscape-study-of-accelerators-and-incubators-in-brazil/
Força Tarefa de Finanças Sociais.
Avanço das recomendações e reflexões para o fortalecimento das Finanças Sociais
e Negócios de Impacto no Brasil, 2016. Disponível em http://ice.org.br/wp-
content/uploads/2017/02/Relatorio_2016_FTFS.pdf
Força Tarefa de Finanças Sociais. O
que São Negócios de Impacto, s/d. Disponível em https://forcatarefafinancassociais.org.br/o-que-sao-negocios-de-impacto/>
Sobre
A Aspen Network of Development
Entrepreneurs (ANDE) é uma rede internacional de organizacões
que impulsionam o empreendedorismo em mercados emergentes. Nossos membros
oferecem serviços críticos de financiamento, capacitação e assistência técnica
para “Small & Growing Businesses”, ou apoiam o crescimento do campo como um
todo. Acreditamos que essas empresas têm a capacidade de gerar benefícios
econômicos, sociais e ambientais, contribuindo para o desenvolvimento
sustentável do Brasil e de outros países emergentes.
A Social
Enterprise @ Goizueta é um centro de pesquisa da
escola de negócios da Universidade Emory que visa gerar impacto social, fazendo
com que os mercados trabalhem para mais pessoas, em mais lugares, de diversas
formas, através de pesquisa acadêmica, de programas de trabalho de campo e do
engajamento estudantil. As atividades da SE@G buscam entender o que funciona na
aceleração de empreendedores em países em desenvolvimento, impulsionam a
vitalidade da comunidade em Atlanta por meio do desenvolvimento de
micronegócios, aumentando a transparência nos mercados de cafés especiais,
fortalecendo as comunidades de cafeicultores e desenvolvendo a próxima geração
de líderes de empresas sociais.
O Global Accelerator Learning
Initiative (GALI), é uma parceria de pesquisa entre a
Escola de Negócios Goizueta da Emory University e a Aspen Network of
Development Entrepreneurs (ANDE). Esta parceria foi formada para estudar o
impacto dos programas de aceleração em negócios em estágio inicial. Como parte
dessa iniciativa, a Emory gerencia o Programa de Banco de Dados para o
Empreendedorismo (EDP), que ajuda as aceleradoras a rastrear o impacto que
estão gerando nos negócios que apoiam, enquanto a ANDE opera Global Accelerator
Survey que mapeia as aceleradoras pelo mundo, seus diferentes formatos e
características.