Por: Luiz Trivelatto
Revisado para este Blog e publicado originalmente na ÓTICA REVISTA ANO 2014 – Edição 368 – JUL/AGO Seção: Marketing
Fernando já não aguentava mais! Todos os dias tinha que ir para aquela empresa que ele não criou, e que lhe parecia o lugar mais errado do mundo. Aos seus olhos, antiquado, lento para os seus padrões modernos de jovem antenado. Sofria calado, achando que estava escondendo de todos os funcionários e seus parentes sua insatisfação.
Era do tipo que entrava calado, falava pouco e saía mudo. Para ele era como entrar numa masmorra, sentia-se preso, sufocado, numa penumbra constante. Às vezes achava-se parecido demais com seu pai, e isso o atemorizava. Não sabia porque, mas dava-lhe um aperto no coração que muitas vezes era preciso sair de lá, quase que de repente, sem avisar para onde ia ou quando voltaria.
Mal sabia que tudo aquilo despertava nele sentimentos e emoções de abandono por um pai que sempre justificava sua ausência por causa do trabalho, sua indisposição por causa do cansaço e sua compensação em garantir a segurança e o conforto da família. Na verdade, ambos mal se conheciam. Seus diálogos restringiam-se ao estritamente necessário.
Já com sua irmã Ana Paula, tudo era muito diferente!
Parecia que ele, seu pai, a protegia demais, a mimava o tempo todo, como se ela fosse tão frágil que não pudesse participar do que realmente acontecia à sua volta, fosse em casa, ou na empresa. A ela tudo era permitido, tudo era mais fácil, pensava ele. Até sua sala era mais bonita, tinha mais luz, ficava num lugar mais silencioso e com uma vista muuuito melhor! O que lhe escapava era o que se passava na mente de Ana Paula.
Ela o procurava constantemente, pedindo-lhe atenção para o que julgava serem problemas, e que ele os via como coisas corriqueiras perto do que ele enfrentava com funcionários na linha de produção, na administração, nos atritos com mãe deles na área financeira e com o pai, sempre rejeitando suas ideias. Mas Ana Paula sempre voltava, sem nunca revelar o quanto queria vê-lo mais feliz, sorridente e amigável. Sentia seu coração apertar cada vez que via expressões de descontentamento dos funcionários por causa das atitudes de seu irmão mais velho, mas algo a mantinha ali, ao lado dele e seus pais.
Quem parecia se divertir, sem se incomodar com nada, como se aquele lugar fosse sua própria Disneylândia, com gente sempre sorrindo para ele, doces escondidos em gavetas, sons, luzes e máquinas incríveis era o Guto, irmão caçula e eterno visitante, que às vezes se comportava como se fosse um adulto, e outras como se uma criança em festa de aniversário!
Seu Alfredo e Dona Lurdes, dedicavam-se ao negócio da família 7 dias por semana, com raros domingos em que, antes e depois do almoço em família, não tivessem que discutir problemas, tomar decisões e até dar uma “passadinha” na empresa que poderia tomar-lhes horas!
Mas esse ritmo começava a cobrar seu preço, e tornava-se evidente em ambos o desgaste das forças para o trabalho e da paciência para com o desgoverno das regras impostas pelo “sócio” que retira seus lucros independentemente da empresa tê-los para distribuir.
Numa manhã de domingo, o sol ainda surgindo, ouviu-se um grito que ecoou pela casa. Dona Lurdes havia visto seu marido desmaiado ao pé da cama. Os três filhos correram para seu quarto e tomaram um susto como nunca antes. Enquanto Fernando imediatamente ligava para o hospital, Ana Paula pedia ao Guto que fosse buscar água para sua mãe.
Rapidamente ouviu-se uma sirene, e para alegria da família, o pai dava sinais de que estava bem, um pouco atordoado, mas bem!
Ana Paula não saía de perto da mãe. Fernando parecia um médico de tão controlado e objetivo que estava diante da situação. E Guto, passava a mão nos cabelos de seu pai enquanto falava para ele ficar calmo, que estavam todos alí e logo tudo iria passar.
Feitos os exames, o diagnóstico foi rápido: estafa profunda. Recomendação médica: repouso, boa alimentação e pausa mínima de duas semanas no trabalho para validar novos exames.
Passado o susto, com a família reunida em torno do Sr. Alfredo, Guto surpreendeu a todos dizendo:
- Porque a gente não aproveita e fala pro pai que nós vamos cuidar dele, da mãe e da fábrica?
Ana Paula sorriu e seus olhos se encheram de lágrimas, mas não o bastante para ver que Fernando estava ali, estático, sem saber o que dizer. Caminhou até ele e o abraçou, com tanto carinho que, sem que ele pudesse pensar, atirou-se sobre seu pai e sua mãe, trazendo sua irmã e o caçula juntos, e foi como uma grande libertação para todos, alí, finalmente e realmente próximos um do outro.
Seu Alfredo entendeu que havia chegado o momento: era hora de dizer o que havia construído em sua mente e com sua esposa:
- Filhos, quero dizer o que espero de cada um de vocês a partir de hoje: Fernando, depois de ver você superar a si mesmo nesses anos todos, colocando sua família e a empresa acima de seu ímpeto e seus estudos, que tanto quiseram mudar o que via à sua volta, acredito que agora está preparado para começar a assumir as decisões mais difíceis e importantes. Minha querida Aninha, você é o equilíbrio que sua mãe sempre trouxe até nós, em casa ou na empresa, entendendo e aceitando cada um de nós como somos, e espero que continue assim, mantendo a família unida e levando esse sentimento até nossos funcionários, fornecedores e clientes, mostrando o melhor que temos para cada um deles. E você Guto, meu menino precioso, tem a oportunidade que eu nunca tive de aprender primeiro a me divertir com o trabalho. Aproveite essa alegria que você tem e aprenda tudo que puder sem nunca ter vergonha de qualquer trabalho que faça na nossa empresa ou qualquer outra em que esteja um dia, mas faça sempre o seu melhor, sem ficar se achando melhor que os outros!
Dona Lurdes, olhou firme, mas com ternura, dentro dos olhos de cada um, e sem uma palavra, selou o acordo que faria daquela família um exemplo de união, compreensão e competência por muito e muitos anos!
*Todos os personagens são fictícios, baseados no folclore popular.
Luiz Trivelatto atende o setor óptico há 9 anos. É parceiro Abióptica e educador na Fundação Abióptica. Estrategista de mercado, mentor empresarial e palestrante. Já atendeu mais de 100 empresas nacionais e multinacionais da indústria, varejo e serviços, conquistando prêmios de marketing e de gestão de mudanças. É membro atuante em diversas entidades de desenvolvimento do empreendedorismo e têm capacitado profissionais em cursos de MBA nas principais escolas de negócios de SP e RJ. Também atua como mentor da Sýndreams Aceleradora
Revisado para este Blog e publicado originalmente na ÓTICA REVISTA ANO 2014 – Edição 368 – JUL/AGO Seção: Marketing
Fernando já não aguentava mais! Todos os dias tinha que ir para aquela empresa que ele não criou, e que lhe parecia o lugar mais errado do mundo. Aos seus olhos, antiquado, lento para os seus padrões modernos de jovem antenado. Sofria calado, achando que estava escondendo de todos os funcionários e seus parentes sua insatisfação.
Era do tipo que entrava calado, falava pouco e saía mudo. Para ele era como entrar numa masmorra, sentia-se preso, sufocado, numa penumbra constante. Às vezes achava-se parecido demais com seu pai, e isso o atemorizava. Não sabia porque, mas dava-lhe um aperto no coração que muitas vezes era preciso sair de lá, quase que de repente, sem avisar para onde ia ou quando voltaria.
Mal sabia que tudo aquilo despertava nele sentimentos e emoções de abandono por um pai que sempre justificava sua ausência por causa do trabalho, sua indisposição por causa do cansaço e sua compensação em garantir a segurança e o conforto da família. Na verdade, ambos mal se conheciam. Seus diálogos restringiam-se ao estritamente necessário.
Já com sua irmã Ana Paula, tudo era muito diferente!
Parecia que ele, seu pai, a protegia demais, a mimava o tempo todo, como se ela fosse tão frágil que não pudesse participar do que realmente acontecia à sua volta, fosse em casa, ou na empresa. A ela tudo era permitido, tudo era mais fácil, pensava ele. Até sua sala era mais bonita, tinha mais luz, ficava num lugar mais silencioso e com uma vista muuuito melhor! O que lhe escapava era o que se passava na mente de Ana Paula.
Ela o procurava constantemente, pedindo-lhe atenção para o que julgava serem problemas, e que ele os via como coisas corriqueiras perto do que ele enfrentava com funcionários na linha de produção, na administração, nos atritos com mãe deles na área financeira e com o pai, sempre rejeitando suas ideias. Mas Ana Paula sempre voltava, sem nunca revelar o quanto queria vê-lo mais feliz, sorridente e amigável. Sentia seu coração apertar cada vez que via expressões de descontentamento dos funcionários por causa das atitudes de seu irmão mais velho, mas algo a mantinha ali, ao lado dele e seus pais.
Quem parecia se divertir, sem se incomodar com nada, como se aquele lugar fosse sua própria Disneylândia, com gente sempre sorrindo para ele, doces escondidos em gavetas, sons, luzes e máquinas incríveis era o Guto, irmão caçula e eterno visitante, que às vezes se comportava como se fosse um adulto, e outras como se uma criança em festa de aniversário!
Seu Alfredo e Dona Lurdes, dedicavam-se ao negócio da família 7 dias por semana, com raros domingos em que, antes e depois do almoço em família, não tivessem que discutir problemas, tomar decisões e até dar uma “passadinha” na empresa que poderia tomar-lhes horas!
Mas esse ritmo começava a cobrar seu preço, e tornava-se evidente em ambos o desgaste das forças para o trabalho e da paciência para com o desgoverno das regras impostas pelo “sócio” que retira seus lucros independentemente da empresa tê-los para distribuir.
Numa manhã de domingo, o sol ainda surgindo, ouviu-se um grito que ecoou pela casa. Dona Lurdes havia visto seu marido desmaiado ao pé da cama. Os três filhos correram para seu quarto e tomaram um susto como nunca antes. Enquanto Fernando imediatamente ligava para o hospital, Ana Paula pedia ao Guto que fosse buscar água para sua mãe.
Rapidamente ouviu-se uma sirene, e para alegria da família, o pai dava sinais de que estava bem, um pouco atordoado, mas bem!
Ana Paula não saía de perto da mãe. Fernando parecia um médico de tão controlado e objetivo que estava diante da situação. E Guto, passava a mão nos cabelos de seu pai enquanto falava para ele ficar calmo, que estavam todos alí e logo tudo iria passar.
Feitos os exames, o diagnóstico foi rápido: estafa profunda. Recomendação médica: repouso, boa alimentação e pausa mínima de duas semanas no trabalho para validar novos exames.
Passado o susto, com a família reunida em torno do Sr. Alfredo, Guto surpreendeu a todos dizendo:
- Porque a gente não aproveita e fala pro pai que nós vamos cuidar dele, da mãe e da fábrica?
Ana Paula sorriu e seus olhos se encheram de lágrimas, mas não o bastante para ver que Fernando estava ali, estático, sem saber o que dizer. Caminhou até ele e o abraçou, com tanto carinho que, sem que ele pudesse pensar, atirou-se sobre seu pai e sua mãe, trazendo sua irmã e o caçula juntos, e foi como uma grande libertação para todos, alí, finalmente e realmente próximos um do outro.
Seu Alfredo entendeu que havia chegado o momento: era hora de dizer o que havia construído em sua mente e com sua esposa:
- Filhos, quero dizer o que espero de cada um de vocês a partir de hoje: Fernando, depois de ver você superar a si mesmo nesses anos todos, colocando sua família e a empresa acima de seu ímpeto e seus estudos, que tanto quiseram mudar o que via à sua volta, acredito que agora está preparado para começar a assumir as decisões mais difíceis e importantes. Minha querida Aninha, você é o equilíbrio que sua mãe sempre trouxe até nós, em casa ou na empresa, entendendo e aceitando cada um de nós como somos, e espero que continue assim, mantendo a família unida e levando esse sentimento até nossos funcionários, fornecedores e clientes, mostrando o melhor que temos para cada um deles. E você Guto, meu menino precioso, tem a oportunidade que eu nunca tive de aprender primeiro a me divertir com o trabalho. Aproveite essa alegria que você tem e aprenda tudo que puder sem nunca ter vergonha de qualquer trabalho que faça na nossa empresa ou qualquer outra em que esteja um dia, mas faça sempre o seu melhor, sem ficar se achando melhor que os outros!
Dona Lurdes, olhou firme, mas com ternura, dentro dos olhos de cada um, e sem uma palavra, selou o acordo que faria daquela família um exemplo de união, compreensão e competência por muito e muitos anos!
*Todos os personagens são fictícios, baseados no folclore popular.
Luiz Trivelatto atende o setor óptico há 9 anos. É parceiro Abióptica e educador na Fundação Abióptica. Estrategista de mercado, mentor empresarial e palestrante. Já atendeu mais de 100 empresas nacionais e multinacionais da indústria, varejo e serviços, conquistando prêmios de marketing e de gestão de mudanças. É membro atuante em diversas entidades de desenvolvimento do empreendedorismo e têm capacitado profissionais em cursos de MBA nas principais escolas de negócios de SP e RJ. Também atua como mentor da Sýndreams Aceleradora
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